Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

27 agosto 2011

Jorge dos Reis | Tipografia



"Saber ver o desenho de uma letra e de um alfabeto passa por saber ouvi-lo."
«À minha casa na Serra da Estrela chegam continuamente sons de sinos vários, variadamente repercutidos, de significados diversos, de dia e de noite, através da neblina e com sol. São sinais de vida nas aldeias e na própria cadeia montanhosa. Convites ao trabalho, à meditação, avisos. "E a vida continua na sofrida e serena necessidade do equilíbrio do interior profundo" como diz Kafka.
Todo esse contexto de sons é foneticamente paralelo às palavras.
Elas próprias surgem mentalmente e rapidamente desaparecem de forma intuitiva. É o próprio tempo que provoca esse desaparecimento: Tempus Edax Rerum - o tempo é o destruidor de todas as coisas.
Na esfera destas palavras existem os caracteres. São formas abstractas com a sua devida atracção peculiar e mítica.
A letra no contexto da palavra, pela sua carga poética e poder de comunicação e ao mesmo tempo com a possibilidade de confundir e enganar, sempre foi para mim uma fonte de paixão e puro fascínio. (…)
A letra é em si um decifrar de códigos que perpassam a linguagem. Um alfabeto é uma exaltação harmónica plena, um estudo de execução transcendente.»

in: Jorge dos Reis, Das Letras que Moram nas Palavras, B.N., Lisboa, 2001