Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

10 agosto 2023

A Vida Secreta das Árvores | Peter Wohlleben

 

Uma árvore não faz uma floresta, não é capaz de criar um clima local equilibrado, é vulnerável ao vento e às condições meteorológicas. Pelo contrário, muitas árvores juntas logram formar um ecossistema, capaz de mitigar o calor e o frio extremos, de armazenar toda uma quantidade de água e de produzir ar bastante húmido. É neste tipo de ambiente que as árvores são capazes de viver protegidas e por muitos anos. E para alcançá-lo, a comunidade tem de preservar-se custe o que custar. Se cada exemplar apenas cuidasse de si próprio, então alguns não atingiriam uma idade avançada. Mortes constantes teriam como resultado grandes intervalos no copado florestal, facilitando a entrada de tempestades que poderiam derrubar ainda mais troncos. O calor estival penetraria até ao chão da floresta, secando-a, para prejuízo de todos.

Por conseguinte, cada árvore é valiosa para a comunidade e merece ser preservada o mais possível. (…)

Possuímos por conseguinte uma secreta linguagem de odores, algo que também as árvores exibem. (…)

E, com isto viemos parar direitinhos à escola de árvores, onde infelizmente reina ainda um certo tipo de violência, uma vez que a natureza é uma professora bem rigorosa. Quem não prestar atenção e não se adaptar, então sofre as consequências. Não há nada pior para uma árvore que fendas na madeira, na casca, num câmbio vascular extremamente sensível. A árvore é obrigada a reagir. E não se trata apenas de procurar fechar as feridas. A partir de agora, a água será mais bem racionada, não sendo sugado tudo o que o solo oferece logo na primavera, sem ligar ao desperdício. As árvores aprendem muito bem a fazer isto, mantendo a partir de então essa atitude de poupança, mesmo quando o solo se encontra suficientemente húmido. (…)

Se as árvores estão em condições de aprender (e isto não é difícil de observar), coloca-se então a questão sobre onde depositam elas o conhecimento adquirido e onde são capazes de o voltar a convocar. Afinal de contas, as árvores não têm um cérebro que funcione como base de dados, levando a cabo todos os processos. Isto aplica-se a todas as plantas, pelo que muitos investigadores se mostram céticos e muitos silvicultores consideram fantasiosa a ideia de que a flora tem uma qualquer capacidade de aprendizagem. Mas eis senão quando aparece de novo a cientista australiana Monica Gagliano, que se pôs a pesquisar as mimosas, um subarbusto tropical. (...) Quando lhes tocam, elas fecham as suas folhinhas plumosas em jeito de defesa. (…)

Numa mão-cheia de solo florestal existem mais seres vivos do que seres humanos à face da Terra. (…)

Os silvicultores afirmam também que é o bosque que faz o seu próprio habitat ideal. (…)


in: A Vida Secreta das Árvores, de Peter Wohlleben, Bertrand Editora, Lisboa, 2020