Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

23 junho 2013

A Sagração da Primavera



"E num corpo que já não é seu, num tempo que a transcende e antecede, ela dança.
Selvagem, brusca, bruta, sensual; uma consciência desperta para o existir pleno e superior.
Exausta, acabará por cair, por fim.
Depois, o prelúdio.
O recomeço.
Os mesmos rituais, os mesmos círculos, as eternas revelações daquilo que foi e sempre será.
Tudo se repete num perpétuo retorno de momentos. Não há início nem ocaso.
A terra, as raízes, os homens.
Os sentidos, as emoções, as rivalidades.
O quotidiano, os excessos, o medo, a imaginação e a criação.
As crenças. A fé. Os sacrifícios: a busca constante de actuação do divino através da adoração ou oferenda do que é terreno e material - Homem ou objecto; a expressão pura da libertação, uma tentativa de fuga ao que nos oprime e angustia.
A sagração. Do tempo, esse que é limitado, cíclico, inexorável, que nos trespassa e se repete. Constantemente. Eternamente. Sem fim. Renasce, recria-se, reencontra-se.
E num corpo que já não é seu..."

in: A Sagração da Primavera, direcção de Olga Roriz, Culturgest, Junho de 2013
Texto: Paulo Reis, Maio 2013

05 junho 2013

Uma pedagogia da Morte | Obrigação de viver




Assim, em benefício da morte voluntária: a necessidade existe, mas não há qualquer obrigação de viver por necessidade; é possível escolher abandonar a vida por opção própria; o nosso corpo pertence-nos e podemos usá-lo como quisermos; a existência não vale pela quantidade de vida vivida, mas sim pela sua qualidade; morrer bem é melhor do que viver mal; deve-se viver o que se deve, não o que se pode; escolher uma (boa) morte vale mais do que padecer uma (má) vida.

in: A Potência de Existir, de Michel Onfray, p. 190.