Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

13 janeiro 2019

Roger Scruton | Como Ser …

Defendi que a "liberdade é um cavalo muito bom, para cavalgar, mas para cavalgar até algum sítio."
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Decidi abandonar o mundo académico e socorrer-me dos meus próprios recursos para ganhar a vida.
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A confissão e o perdão são os costumes que tornaram a nossa civilização possível.
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… a nossa herança judaico-cristã é viver no mundo da lua. É não ter em conta a cultura que, no decurso dos séculos, se concentrou na prática do arrependimento.
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O medo do escuro, a repugnância pelo incesto, o impulso para nos agarrarmos à mãe - são adaptações mais profundas do que a razão. Outras - a culpa, a vergonha, o amor pela beleza, o sentido de justiça - nascem da própria razão e reflectem a rede de relações interpessoais e de discernimento através das quais nos situamos como sujeitos livres numa comunidade de outros como nós. Em ambos os níveis - o instinto e o pessoal - a capacidade de sacrifício nasce, num caso como um cego afecto, no outro como um sentido de responsabilidade para com os outros e para com um modo de vida moral.
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A sociedade, acreditava Burke, depende de relações de afecto e lealdade, e estas só podem ser construídas a partir da base, pela interacção cara a cara. (…) Quando a sociedade está organizada a partir de cima, seja pelo governo centralizado de uma ditadura revolucionária, seja pelos decretos impessoais de uma burocracia imperscrutável, a responsabilização desaparece rapidamente da ordem política, e também da sociedade. Um governo centralizado gera indivíduos irresponsáveis, e o confisco da sociedade civil pelo Estado conduz a uma recusa generalizada dos cidadãos em agirem por sua conta.
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O conservadorismo é a filosofia do vínculo afectivo. Estamos ligados a coisas que amamos, e desejamos protegê-las da decadência. Mas sabemos que não podem durar para sempre.


in: Como Ser Um Conservador, de Roger Scruton, Guerra & Paz, Lisboa, 2018