Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

16 fevereiro 2015

Monólito | Pedro Vaz


 

A exposição Monólito, de Pedro Vaz, apresenta-nos um desafio que parte de três elementos: uma pedra, um mapa e um filme. Marco inicial, desenho de projecto, a pedra e o mapa funcionam como indícios que o filme revela, incitando-nos à própria descoberta.
Acompanhando um curso de água, como a linha de uma escrita pré-determinada da paisagem, este vídeo - parte obra documental, parte ficção - permite-nos testemunhar o itinerário de uma personagem (um alter ego a que o autor se refere como "ele") na sua deambulação metafórica.
Narrativa evocadora da viagem essencial, "Monólito" é o resultado de um encantamento (ou uma invocação) pela pedra, pelo uno, pelo caminho como processo artístico (de que o mapa é também símbolo), da libertação para a elevação, conduzindo à criação, cujo corolário iremos descobrir no jardim Botânico O Chão das Artes, escondido entre as árvores da Mata.

in: Monólito, Excerto do texto de Emília Ferreira, Casa da Cerca, Almada, 14 de Fevereiro de 2015

14 fevereiro 2015

Dafnis e Cloé | Longus

… A época do ano também os excitava. Era já o fim da Primavera e o princípio do Verão: a vegetação inteira resplandecia de vigor, com as árvores cobertas de fruta e os campos de trigo ceifado. Encantador era o ruído das cigarras, suave o odor dos frutos, agradável o balir das ovelhas. Dir-se-ia que por seu turno os ribeiros cantavam correndo devagar, que os ventos tocavam flauta nos pinheiros, que as maçãs se deixavam cair por terra sob o efeito do amor, que o sol, guloso de beleza, despia toda a gente. Dafnis, que toda aquela atmosfera excitava, entrava nos ribeiros, umas vezes para neles se banhar, outras para pescar os peixes irrequietos. Muitas vezes bebia neles também, pensado apagar a febre que sentia em si. Quanto a Cloé, depois de ter mungido as suas ovelhas e a maior parte das cabras, passava muito tempo a coalhar o leite, porque as moscas a incomodavam imenso e a picavam quando ela as enxotava. Depois do que, lavava a cara, engrinaldava-se com raminhos de pinheiro, punha à volta da cintura a pele de gazela e, enchia de vinho e de leite preparando uma bebida que partilhava com Dafnis.
Mas quando chegava o meio dia, eles tornavam-se prisioneiros dos próprios olhares. Ela, ao olhar para Dafnis despido, sentia-se arrebatada por aquela beleza perfeita e sentia-se aniquilada diante daquele rapaz no qual ela não conseguia encontrar nada a criticar. Ele, ao vê-la com a pele de gazela e a grinalda de pinheiro, a estender-lhe a escudela, julgava estar a olhar para uma das Ninfas da gruta. Ele pegava nos raminhos de pinheiro que ela tinha na cabeça e fazia para si uma grinalda, depois de a ter levada aos lábios. Por seu lado, enquanto ele tomava banho todo nu, ela agarrava na roupa dele para se vestir com ela, depois de a ter igualmente levado aos lábios. Às vezes, atiravam maçãs um ao outro, e arranjavam as cabeleiras penteando-se um ao outro. Ela, comparava a cabeleira de Dafnis, a sebes de murta porque era escura. Ele, comparava o rosto de Cloé a uma maçã porque ele era branco e rosado. Ensinava-lhe também a tocar flauta e, quando ela começava a soprar, ele tirava-lhe a flauta e fazia correr os lábios sobre as canas: parecia corrigir os erros, na realidade, através daquela flauta, eram de facto beijos que ele dava a Cloé. …

in: Dafnis e Cloé, de Longus, (Canto Nono), Editorial Teorema, 1996  

01 fevereiro 2015

Numa Alma …


Numa alma não cultivada os desejos são todos materiais: sexo, alimento, poder, prazer físico. O desejo da alma é a posse: posse do amado, da fama, da fortuna, do poder.

Numa alma harmoniosa esses objectivos são substituídos pelo desejo da posse das ideias puras: o bom (justo/injusto). O verdadeiro e o belo. Quer-se possuí-los mas para isso tem que se fazer um longo caminho de aperfeiçoamento espiritual que nos permita anular os desejos que nos afastam do mundo das ideias e cultivar os pensamentos abstractos.

in: Os Primórdios da Psicologia na Grécia, de Rodrigo de Sá-Saraiva, 2014, p. 9.