Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

22 janeiro 2016

Ovídio | Arte de Amar

Livro I

O mestre do Amor

Se alguém das nossas gentes não conhece a arte de amar,
leia este canto; e, depois de o ter lido, entregue-se, com sabedoria, ao amor.
É a arte e as velas e os remos que fazem mover as naus,
é a arte que faz mover, ligeira, a quadriga. É a arte que deve reger o Amor.
(…)

Plano

Antes de mais, o que quiseres amar, trata de procurá-lo,
tu que acabas de entrar, feito soldado, em novo exército;
logo depois, hás-de empenhar-te em fazer ceder aquela que te agradou;
em terceiro lugar, farás por que dure tempo o amor.
(…)

A Procura

Enquanto te for consentido e puderes, solto de amarras, caminhar por toda a parte,
escolhe aquela a quem hás-de dizer: "só tu me agradas!"
(…)

O Banquete

Facilitam, também, a aproximação os banquetes, à mesa;
há qualquer coisa além do vinho, que aí deves buscar.
(…)

A mulher e o Desejo

Antes de mais, tem confiança no teu coração de que todas podem ser conquistadas; e vais conquistá-las; basta que estendas as redes.
Mais depressa, na Primavera, se hão-de calar os pardais, e, no Verão, as cigarras,
e o cão de Ménalo voltará costas à lebre
do que resistirá a mulher ao jovem que com doçura a quer namorar.
Até mesmo aquela que podes supor que não quer… quer.
Tal como Vénus furtiva é grata ao homem, assim o é também à mulher;
o homem disfarça mal; ela é com mais recato que alimenta o desejo.
Se a nós, homens, nos der mais jeito não sermos os primeiros a pedir,
logo a mulher, vencida, há-de assumir o papel de quem pede.
Na mansidão do prado, é a fêmea que solta mugidos ao touro,
é a fêmea sempre que relincha ao cavalo de rijos cascos.
(…)

A Paixão Feminina

Todos estes actos foram movidos por paixão de mulheres;
é mais intensa que a nossa e possui fúria bem maior.
(…)

A Arte da Palavra

Aprende as boas artes, esse é o meu conselho, ó juventude de Roma,
e não apenas para defender réus temerosos;
tal como o povo e o juiz severo e os eleitos do senado,
assim também a mulher, vencida, há-de render as mãos à tua eloquência. (…)
Se te ler e não quiser responder, não a forces;
procura, apenas, que leia as tuas palavras delicadas até ao fim;
Se quiser ler, há-de querer responder ao que leu;
a resposta chega com seu ritmo e seu passo;
talvez te chegue, primeiro, uma carta triste,
a pedir-te que não mais a procures;
se pede, é porque receia que não aconteça; se não pede, deseja que insistas.
Prossegue! Bem cedo verás realizado o teu desejo.

in: Arte de Amar, de Ovídio, Livros Cotovia, Lisboa, 2006