Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

27 julho 2012

Uma Rosa Amarela no meu jardim


Sebastião da Gama | A Companheira

Não te busquei, não te pedi: vieste.
E desde que nasci houve mil coisas que a meus olhos se deram com igual simplicidade:
O Sol, a manhã de hoje, essa flor que é tão grácil que a não quero,
o milagre das fontes pelo estilo …
Vieste.
O Sol veio também, a flor, a manhã de hoje, as águas …
Alegria, mas calada alegria, mas serena,
entendimento puro, natural encontro,
natural como a chegada do Sol, da flor, das águas,
da manhã de ti, que eu não buscava nem pedira.
E o Amor? E o Amor?
E o Amor?
… : Vieste.

in: Museu Sebastião da Gama, Vila Fresca de Azeitão, (C.M. de Setúbal)

25 julho 2012

Michel Onfray | A Arqueologia do Presente


A miséria intelectual e cultural do nosso tempo exibe-se também em diversas propostas estéticas contemporâneas. Se queremos defender a arte contemporânea, devemos evitar celebrá-la em bloco, sendo necessário, para isso, a paciente operação de uma inventariação: separar a positividade magnífica da negatividade residual. Defender a força activa e recusar a força reactiva.
Ao estilo da medicina forense.

in: A Potência de Existir, de Michel Onfray, Campo da Comunicação, p. 147.

19 julho 2012

Ana Gaspar | Libertar o Leão

Todos somos uma só mente
A doença do outro é a nossa doença
A alegria que é nossa também é do outro
Estamos todos unidos pela criação
Estamos unidos pela força do Amor pela Vida
União ao Universo da Criação
Somos seres criadores.

Ana Paula Gaspar, 17 de Julho de 2012

15 julho 2012

Darwin | Evolução


Nós somos um exemplo do que se poderia chamar "a sobrevivência do tangencialmente adequado". Temos orgulho na nossa capacidade intelectual e na nossa cultura, mas como espécie somos medianos em muitos aspectos. Em quase todos os habitats somos mais lentos, frágeis e menos eficientes do que os animais circundantes, incluindo os predadores mais ferozes. Não somos sequer grande coisa nas tarefas em que nos julgamos especiais, como pensar ou caminhar com a postura erecta. Fazemos raciocínios errados com frequência, alguns dos quais fatais. Esquecemo-nos de informações importantes, apressamo-nos em conclusões erradas, ignoramos a realidade. Os nossos cérebros são atreitos a ilusões e alucinações, e as emoções podem tomar conta de nós, levando-nos a estranhos comportamentos. Mas, e ainda assim, em regra saímo-nos bem com o cérebro que nos coube, por mais imperfeito que seja. A postura erecta trouxe muitas vantagens, como libertar as mãos para o transporte de alimentos e a manipulação de utensílios. Esta solução está longe de ser perfeita, porém. (…)

Embora haja entraves à Evolução, o seu poder não deixa de ser incrível, até majestoso. Perceber que um processo tão simples deu origem à diversidade que existe na natureza continua a ser tão arrebatador hoje como foi no tempo de Darwin.
"Há grandeza nesta visão da vida", escreveu ele, encantado por perceber que, "de um começo tão modesto, inúmeras formas mais belas e mais maravilhosas evoluíram e vão evoluindo".

Todas as criaturas, da bactéria mais minúscula à baleia azul, estão num dos ramos da grande árvore da vida. Eis-nos assim chegados ao grande final que te fará sentir um formigueiro na espinha:
Tu és parente de cada pessoa, de cada espécie, de cada um dos seres vivos que alguma vez apareceram neste planeta. De todos e de cada um.

in: Evolução, de Daniel Loxton, Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 24/25.
[A fotografia que aqui se apresenta, foi recolhida no Field Museum, Chigado, em Outubro, 2010]

13 julho 2012

Michel Onfray | A Potência de Existir

Um sistema hedonista.
Sugiro amiúde esta máxima de Chamfort, por ela funcionar como imperativo categórico hedonista: desfruta e faz desfrutar, sem fazeres mal a ti ou a alguém: eis toda a moral.
Está tudo dito nesta máxima: fruição de si, é certo, mas também e sobretudo fruição de outrem, porque sem ela nenhuma ética é possível ou pensável, pois só o estatuto do outro a define como tal. Sem outro - como no Marquês de Sade - , nenhuma moral é possível… No terreno consequencialista, a densidade desta máxima de Chamfort comporta desenvolvimentos infinitos.

A máquina celibatária.
A minha definição do celibatário não coincide com a habitual acepção do estado civil. A meu ver, o celibatário não vive necessariamente sozinho, sem companheiro ou companheira, sem marido ou mulher, sem esposo regular. Na verdade, o celibatário define aquele que, ainda que comprometido numa história dita amorosa, conserva as prerrogativas e o uso da sua liberdade. Esta figura aprecia a sua independência e deleita-se com a sua soberana autonomia. O contrato no qual se instala não tem um prazo indeterminado, mas determinado, possivelmente renovável, é certo, mas não de uma forma obrigatória.

in: Michel Onfray, A Potência de Existir, Editora Campo da Comunicação, pp. 77/125.

11 julho 2012

Jacques Rancière | A pintura no texto

Não há arte sem um olhar que a veja como arte. Contrariamente à sã doutrina que pretende que um conceito seja a generalização das propriedades comuns a um conjunto de práticas ou de objectos, é estritamente impossível exibir um conceito de arte que defina as propriedades comuns à pintura, à música, à dança, ao cinema ou à escultura.
O conceito de arte não é a exibição de uma propriedade comum a um conjunto de práticas, nem sequer uma dessas "semelhanças de família" que os discípulos de Wittgenstein convocam em último recurso.

A arte, tal como a designamos, só existe há uns meros dois séculos. Não nasceu graças à descoberta do princípio comum às diferentes artes - senão seriam precisos esforços superiores aos de Clement Greenberg para fazer coincidir a sua emergência com a conquista para cada arte do seu "medium" próprio. A arte nasceu num longo processo de ruptura com o sistema das belas-artes, isto é, com um outro regime de disjunção no seio das artes.

A arte em geral existe em virtude de um regime de identificação - de disjunção - que dá visibilidade e significação a práticas de arranjo das palavras, de arranjo expositivo das cores, de modelagem dos volumes ou de evolução dos corpos, que decidem, por exemplo, o que é a pintura, o que se faz ao pintar e o que se vê num mural ou numa tela pintados.

in: O Destino das Imagens, de Jacques Rancière, Orfeu Negro, pp. 99 a 101

10 julho 2012

Nietzsche | Arte e Estética

A palavra Dionísio significa mais para Nietsche, de acordo com interpretação de Muller-Lauter. Para ele, a experiência dionisíaca deve permitir respirar na "mais monstruosa paixão e altitude".
Um tal exercício requer uma saúde peculiar que, para além de perigosas escaladas, possibilite a aventura de percorrer os limites da alma.

"A saúde pertence a quem tem sede na alma de percorrer com sua vida todo o horizonte dos valores e de quanto foi desejado até hoje, quem tem sede de circum-navegar as costas deste ideal 'mediterrâneo'. (NIETZSCHE, 1882:280)
A experiência dionisíaca propõe a intensificação da vida em condições extremas.
A "inesgotabilidade do fundo dionisíaco do mundo" (FINK, 1983:20) permite que o fenómeno da arte seja colocado no centro, a partir dele se torna possível decifrar o mundo.

Na confrontação entre o homem científico e o homem artístico proposta por Nietzsche, Fink observa que o homem artístico é o tipo superior em comparação com o lógico e o cientista (1983:35). Para o homem artístico o questionamento e destruição dos velhos limites impostos pela dureza dos conceitos pode ser uma resposta criadora da intuição. Nesse sentido, a criança como metáfora de inocência e esquecimento nega um certo tipo de tradição do conhecimento, que se constrói a partir de uma criteriosa memorização e ordenação de saberes.
Nietzsche considera que para ser artista, também é necessário esquecer, ignorar! (1882:14).

O esquecimento como hábito elegante é capaz de inaugurar novas impressões, compreensões. Ao mesmo tempo, tal hábito enfurece os mais velhos e os eruditos, que passam a ser entendidos como perspectivas, e podem até ser ignorados.

Nietzsche engenha uma estilização da vida, onde gestos, palavras, pensamentos e todo o entorno, criado por cada um, sejam a representação mais perfeita de si, onde a beleza está associada ao estilo - forma única e original de ser.
"O estilo deve provar que o sujeito acredita em seus pensamentos, e que não apenas os pensa, mas sente." (Nietzsche, 1884:60)

A existência como projecto estético, para além de qualquer sentido, valoriza a dimensão artística da vida, onde o belo é um eterno vir a ser.

in: Nietzsche, arte e estética: uma interpretação do belo, por Marisa Forghieri, Revista de Filosofia, Edição 08, pp. 32 a 39.