Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

17 abril 2018

As 4 Estações


A passagem do Tempo é uma das maravilhas da Natureza, apenas temos uma noção temporal através desta passagem lenta e harmoniosa. Conseguimos observar as diferenças em tons, transformadas em matéria.
No Outono tudo morre, cai. Castanho, Vermelho e a Terra a receber toneladas de matéria orgânica em queda livre.
No Inverno tudo adormecido, envolvência. Preto, Branco e a Terra a acolher a matéria orgânica em putrefação.
Na primavera tudo acorda, desperta. Verde, Amarelo e a Terra a lançar para fora o resultado da sua transformação escondida aos nossos olhos humanos.
No Verão tudo cresce, amadurece. Laranja, Vermelho e a Terra a aquecer toda a matéria e dar-lhe o resultado nos frutos saborosos e coloridos.
E…
O ciclo repete-se interminavelmente …

Desde criança que assisto a estas mudanças, desde as que observo na Natureza, como aquelas que sinto no meu corpo e na minha sensibilidade feminina.
Hoje, ao fim de várias leituras de autores, cuja importância maior foi o seu contributo para o meu amadurecimento, enquanto Mulher, revejo-me no resultado deste conjunto de "4 Estações".

A obra é constituída por 4 desenhos do Sol, uma homenagem a este ponto de luz no céu, cuja importância é significativa na Vida na Terra à milhões de anos de Luz.
Tratam-se de 4 manchas de cor que resultaram de uma linha contínua a partir de um centro óptico, um desenho a pastel de óleo.
O Preto é o Inverno, o Vermelho é o Outono, o Laranja é o Verão, e o Amarelo é a Primavera.



in: 4 Estações, de Ana Paula Gaspar, Exposição na ESTG, Portalegre, 21 Fevereiro a 11 Abril de 2018

03 abril 2018

A Vida Humana | Miséria

Biblioterapia: Curar-se, lendo todas as obras de Filosofia.
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Êxtase no acto da cópula, É isso! É essa a verdadeira essência e cerne de tudo, a meta e a finalidade de toda a existência.
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A Vida é uma coisa miserável. Decidi passar a vida a pensar nisso.
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Schopenhauer considerava que era essa a condição humana universal: desejar, saciar-se, entediar-se e desejar outra vez.
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Schopenhauer apreciava as técnicas de meditação orientais e o destaque que estas dão à libertação da mente, de ver através da ilusão e aliviar o sofrimento aprendendo a arte do desapego. Aliás foi ele quem trouxe o pensamento oriental para a filosofia do Ocidente.
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… Quantos mais amigos se tem, mais pesada fica a vida e mais sofre a pessoa quando os perde. Schopenhauer e o budismo dizem que não devemos apegar-nos a nada e …
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É interessante que, além da vida real, o homem tem sempre uma segunda vida abstracta em que, com calma deliberação, o que antes o deixava nervoso e irritado parece frio, sem graça e distante: ele é mero espectador e observador.
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As grandes dores fazem com que as menores mal se sintam e, na falta das grandes, até o menor desgosto nos atormenta.
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A Flor respondeu: - Tolo! Imaginas que abro as minhas pétalas para que as vejam? Eu desabrocho para mim própria porque isso me agrada, e não para agradar aos outros. A minha alegria consiste no meu ser  e no meu desabrochar.
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A filosofia é uma estrada isolada numa grande montanha (…) e quanto mais subimos, mais isolados ficamos. Quem a percorre não a deve temer, mas deixar tudo para trás e abrir caminho, confiante, na neve do Inverno. (…) Em breve vê o mundo lá em baixo, as suas praias e pântanos desaparecerem de vista, os seus pontos desiguais aplanam-se, os seus sons estridentes já não lhe chegam aos ouvidos. E a sua redondeza surge ao caminhante, que recebe sempre o ar fresco e puro da montanha e desfruta do sol quando tudo, lá em baixo, está mergulhado na escuridão da noite.
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Num frio dia de Inverno, alguns porco-espinhos juntaram-se para se aquecerem com o calor dos seus corpos, para não enregelarem. Mas depressa viram que se estavam a picar e afastaram-se. Quando de novo ficaram com frio e se juntaram, repetiu-se a necessidade de se manterem separados até descobrirem a distância adequada a que se podiam tolerar. Assim é na sociedade, onde o vazio e a monotonia fazem com que os homens se aproximem, mas os seus múltiplos defeitos, desagradáveis e repelentes, fazem com que se afastem.
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Schopenhauer lamenta qualquer hora desperdiçada no convívio ou em conversa com os outros. Diz: 'É melhor não dizer nada do que ter um diálogo estéril e parvo em conversas com bípedes.' Lamenta também ter procurado a vida inteira 'um verdadeiro ser humano mas encontrado apenas miseráveis canalhas, de inteligência limitada, mau coração e espírito mesquinho'. Numa nota autobiográfica, afirma: ' Quase todos os contratos com os homens são uma contaminação, uma violação. Chegámos a um mundo habitado por uma classe de criaturas lastimáveis à qual não pertencemos. Devemos estimar e honrar os poucos que são melhores, nascemos para instruir os restantes, não para nos associarmos a eles.'
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A primeira regra para não ser um brinquedo nas mãos de qualquer velhaco, nem ridicularizado por qualquer imbecil, é manter-se reservado e distante.
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Quando tinha trinta anos, estava cansado e aborrecido por ter de considerar iguais a mim pessoas que nada tinham que ver comigo.
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Poucas coisas deixam as pessoas tão satisfeitas como ouvir algum problema ou constatar alguma fraqueza em ti.
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A vida pode ser comparada a um bordado que no começo da vida vemos pelo lado direito e, no final, pelo avesso. O avesso não é tão bonito, mas é mais esclarecedor, pois deixa ver como são dados os pontos.
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Os escritos e ideias deixados em livro por homens como eu são o meu maior prazer na vida. Sem livros, teria desesperado há muito tempo.
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Quando nasce um homem como eu, só pode desejar uma coisa: que consiga ser sempre ele mesmo e viver para os seus dons intelectuais.
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Ao chegar ao fim da vida, nenhum homem sincero e na posse das suas faculdades vai desejar voltar a viver. Preferirá morrer para sempre.
(…)
Consigo suportar a ideia de que, poucas horas depois de morrer, os vermes comerão o meu corpo, mas estremeço ao imaginar professores a criticar a minha filosofia.
(…)
in: A Cura de Schopenhauer, de Irvin D. Yalom, Saída de Emergência, 2016