Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

25 novembro 2014

Luz | Jorge Calado


A energia solar é o resultado da fusão atómica: átomos de hidrogénio que se combinam para formar hélio - afinal, o mecanismo da bomba de hidrogénio. (…)
O papel da ciência é fazer perguntas, boas perguntas. (…)
A química é a resposta a uma curiosidade fundamental: de que são feitas as coisas?
O hidrogénio reage com o oxigénio do ar para formar água, libertando energia que se reconhece pela explosão. A chama é sinal de uma química muito activa. As substâncias combinam-se ou decompõem-se para formar outras substâncias. (…)
O nome da ciência deriva de chemeia ou chemia, termo alexandrino que designava a arte egípcia. Plutarco achava que a palavra chem traduzia a cor escura do solo egípcio - daí a contaminação do significado da química com as artes negras da magia.
O papel dos alquimistas foi assumido, em pleno século XX, pelos físicos nucleares!
São os problemas que fazem nascer as ciências. (…)
Os quatro elementos de Empédocles - terra, água, ar e fogo - valiam pelas suas qualidades. Não é por acaso que os três primeiros correspondem aos três estados fundamentais da matéria - sólido, líquido e gasoso - e o quarto representa a indispensável energia que permite fundir sólidos e vaporizar líquidos (para além de tudo o resto). Nada acontece sem energia; ou melhor, se não houver variação de energia em nenhuma parte do sistema, este pode considerar-se morto.
As velhas crenças levam tempo a morrer. Pensando melhor, não morrem de todo; continuam presentes numa espéci de estado comatoso, à espera de recuperação (ou re-incarnação). (…)

Andrew Marvell notou enfaticamente que
Nenhuma criatura gosta de espaço vazio;
Os seus corpos crescem à medida do lugar.

Ainda mais horrível que o vazio era a noção de penetrabilidade da matéria. A matéria é impenetrável, isto é, dois corpos diferentes não podem ocupar o mesmo espaço. (…)
Dois electrões não podem partilhar o mesmo estado. Se têm a mesma energia e um roda num sentido (spin), o outro tem de rodar no sentido oposto. (…) A metáfora é apropriada, pois o poder não se partilha. Um ditador, tal como um electrão, exclui outro.

De onde vem a electricidade atmosférica? A origem é química. As moléculas são feitas de átomos, e estes, de electrões (carregados negativamente), protões (carregados positivamente) e neutrões (partículas neutras). (…) Os ventos põem grandes massas de ar em andamento; movimento causa atrito; atrito produz electrização.

in: Haja Luz!, de Jorge Calado, Edição Instituto Superior Técnico, Lisboa, 2011

14 novembro 2014

Sintonia | Saber Ouvir

Sintonia é a atenção que vai mais além da empatia momentânea, uma presença plena e continuada que facilita a relação. Oferecemos a alguém a nossa atenção total e escutamos plenamente. Procuramos compreender a outra pessoa em vez de expressarmos a nossa opinião.
Esta capacidade de escutar plenamente parece ser uma aptidão natural. No entanto, como acontece com todas as dimensões da inteligência social, é possível aperfeiçoá-la. E todos nós podemos promover esse aperfeiçoamento prestando intencionalmente mais atenção. A maneira de falar de uma pessoa dá boas indicações sobre a sua capacidade de ouvir profundamente. Durante momentos de genuína conexão, aquilo que dizemos será responsivo ao que o outro sente, diz e faz. Quando a conexão é má, pelo contrário, as conversas tornam-se balas verbais: a mensagem que transmitimos não se altera de modo a adequar-se ao estado de espírito da outra pessoa, limita-se a reflectir o nosso. Ouvir faz toda a diferença. Falar com uma pessoa em vez de escutar o que ela diz reduz a conversa a um monólogo.
(…)
Descobriu-se que saber ouvir é o que distingue os melhore gestores, professores e líderes. (…)
A atenção total, tão ameaçada nesta época de multitarefas, perde acuidade sempre que dividimos o nosso foco. A auto-absorção e as preocupações reduzem o nosso enfoque, deixando-nos menos capazes de reparar nos sentimentos e necessidades dos outros, quanto mais responder-lhes com empatia. A nossa capacidade de sintonia ressente-se, sufocando a relação.
A plena presença não exige, todavia, assim tanto de nós. «Uma conversa de cinco minutos pode ser um momento humano totalmente significativo», nota um artigo publicado na Harvard Business Revue. «Para que resulte, tem de pôr de lado seja o que for que estiver a fazer, pousar o memorando que está a ler, largar o computador, sair do seu devaneio e concentrar-se na pessoa que tem à sua frente.»
Ouvir plenamente maximiza a sincronia fisiológica, de modo que as emoções se alinham. (…) Prestar intencionalmente mais atenção a alguém pode ser a melhor maneira de encorajar o nascimento de uma relação. Escutar atentamente, com uma atenção indivisa orienta os nossos circuitos neurais para a conectividade, pondo-os no mesmo comprimento de onda. Isto maximiza a probabilidade de os ingredientes essesnciais da outra pessoa para a relação - sincronia e pensamentos positivos - despertam e desabrocham.

in: Inteligência Social, de Daniel Goleman, pp. 135 a 138.