Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

18 dezembro 2018

Jordan Peterson | Regras para a Vida

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O que interessava não era saber como era o mundo, ao contrário dos cientistas, mas sim a forma como os seres humanos se deveriam comportar.
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Estudei história, mitologia, neurociências, psicanálise, psicologia infantil, poesia, e grandes partes da Biblia. Li, e talvez tenha percebido alguma coisa, o Paraíso Perdido, de Milton, o Fausto de Goethe, e o Inferno de Dante.
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Sem valores, não há sentido. Porém, entre sistemas de valores existe a possibilidade de conflito. Por isso, ficamos eternamente presos entre a espada mais reluzente e a mais dura das paredes.
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As emoções positivas que experimentamos tem a ver com os nossos objectivos. Só somos tecnicamente felizes, se sentirmos que estamos a progredir, e esta simples ideia implica valor.
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Cada um de nós tem de assumir toda a responsabilidade que conseguir pela sua vida pessoal e também pela sociedade e pelo mundo. Cada um de nós deve dizer a verdade, consertar o que precisa de conserto e desmantelar e recriar o que é velho e ultrapassado. (…) Simplesmente faço o melhor que posso.
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Que a alma do individuo deseja eternamente o heroísmo do Ser genuíno, e que estar disposto a assumir essa responsabilidade é o mesmo que viver uma vida com sentido.
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A parte do nosso cérebro que verifica a nossa posição na hierarquia da dominância é, dessa forma, excepcionalmente antiga e fundamental. É a matriz do sistema de controle, modulando as nossas percepções, valores, emoções, pensamentos e acções. Afecta poderosamente cada aspecto do nosso ser, de forma consciente e inconsciente. E é por isso que quando derrotados reagimos como as lagostas que perderam uma luta. A nossa postura murcha. Baixamos os olhos para o chão. Sentimo-nos ameaçados, magoados, ansiosos e fracos. Se as não melhorarem, ficamos deprimidos. Sob essas condições não podemos lutar como a vida exige, tornamo-nos alvos fáceis dos acossadores de carapaça dura.
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Consideremos a serotonina, o químico, que regula a postura e a fuga da lagosta. As lagostas no fundo da hierarquia produzem menos serotonina. (…) Nos lugares cimeiros da hierarquia produzem níveis elevados de serotonina.
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Existe uma calculadora fundamental e impossível de descrever que monitoriza a nossa posição exacta na sociedade. (…) O fundo da hierarquia da dominância é um lugar terrível e perigoso.
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Quando o remédio causa a doença, estabelece-se um ciclo de retorno positivo.
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Evoluímos ao longo de milhares de anos em circunstâncias sociais intensas. Isso significa que os elementos mais relevantes do nosso ambiente de origem eram personalidades, em vez de coisas, objectos ou situações.
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As mulheres fazem com que os homens tenham uma desconfortável consciência de si mesmos desde o início dos Tempos. Primariamente, fazem isso quando os rejeitam - mas também o fazem quando os humilham, quando os homens não assumem a responsabilidade dos seus actos. Faz sentido, porque as mulheres carregam o fardo primário da reprodução. É difícil ver as coisas de outra maneira. Mas a capacidade das mulheres para humilharem os homens e fazer com que tenham uma consciência desconfortável de si mesmos, ainda é uma força primordial da Natureza.
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Como é que eu sei que o seu sofrimento não é uma maneira de fazer com que sacrifique os meus recursos em seu favor, de forma a que possa, pelo menos momentaneamente, adiar o inevitável.
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A gratidão é muito útil. Também é uma boa protecção contra os perigos da vitimização e ressentimento.
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Que a nossa força seja a lei da justiça, pois o fraco é reconhecidamente inútil.
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A narrativa biblica do Paraíso e da Queda é uma dessas histórias fabricadas pela imaginação colectiva, e que se contruiu ao longo de séculos.
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Deus sentado lá no alto, a seguir todos os nossos movimentos e a escrever, para referência futura, um grande livro. Aqui está uma ideia simbólica e produtiva: o futuro é um pai crítico.
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"Nenhuma árvore pode crescer até ao céu." Acrescenta o sempre assustador C.G.Jung, "A menos que as raízes cheguem ao inferno."
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O cristianismo tornou explícito uma alegação surpreendente: mesmo a pessoa mais humilde tem direitos, direitos genuínos.
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É isso que acontece com os problemas resolvidos. Depois de implementada a solução, até mesmo o facto de que tais problemas terem existido acaba por desaparecer.
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Nietzsche acreditava que Paulo, e mais tarde os protestantes que se seguiram a Lutero, tinham removido a responsabilidade moral dos seguidores de Cristo. Tinham anulado a imitação de Cristo!
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Para Nietzsche e Dostoievsky, a liberdade - até mesmo a capacidade para agir - exige restrições. (…) Precisamos de descobrir essa Natureza e de lutar com ela, antes que possamos fazer as pazes connosco.
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Se não puder manifestar com o seu comportamento aquilo que o ambiente exige, simplesmente morrerá.
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in: 12 Regras para a Vida, um Antídoto para o Caos, de Jordan Peterson, Lua de Papel, Lisboa, 2018.