Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

15 outubro 2018

Tonio Kroger | Thomas Mann

Aquele que ama mais fica sempre em situação de inferioridade e tem de sofrer.
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Mas assim que um terceiro entrava em cena, envergonhava-se e sacrificava-o. E ele ficava outra vez sozinho.
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Pois sabia que o amor dá riqueza e vida às pessoas, e que era assim que ansiava por se sentir em vez de moldar em serenidade, algo de completo.
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Mais de uma vez ficava parado com o rosto quente em lugares solitários, aonde a música, o cheiro das flores e o tilintar dos copos só chegaram esbatidos…
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Toni Kroger manteve-se algum tempo diante do altar arrefecido, cheio de espanto e desilusão, por ter descoberto que a fidelidade era impossível no mundo. Depois encolheu os ombros e seguiu o seu caminho.
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Mas, à medida que a sua saúde se debilitava, fortalecia-se a sua veia artística, tornava-se mais selectivo, ponderado, apreciador, fino, irritável perante a banalidade extremamente sensível a questões de cadência e bom gosto.
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Aquele que vive não trabalha e que é necessário estar morto para se ser de facto um criador.
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O talento para o estilo, a forma e a expressão pressupõe precisamente esta fria e selectiva atitude para com o humano, sim, até certo ponto empobrecimento e abandono do humano. Pois o sentimento saudável e forte, e isto é que é certo, não tem gosto nenhum. Um artista está acabado se se torna humano e começa a sentir.
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O sentimento de separação e o facto de não pertencer a parte alguma.
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Com alguma ousadia poderíamos até concluir que é necessário habitar uma qualquer espécie de prisão para nos tornarmos poetas.
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Tudo compreender significaria tudo perdoar? Não sei. Há algum nojo no conhecimento, Lisaveta. O estado em que basta a um indivíduo avistar uma coisa, para se sentir mortalmente enojado.
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O reino da arte aumenta e o da saúde e da inocência diminui na Terra.
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Um amigo humano! Quer acreditar que me faria orgulhoso e feliz, possuir um amigo entre os homens?
Apanho-me secretamente a espiar o auditório de cá para lá, com a pergunta no coração, quem é que veio ali por mim, com quem pode a minha arte facultar-me uma união ideal…

in: Tonio Kroger, de Thomas Mann, D. Quixote, 2016