Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

03 março 2014

A Experiência Partilhada




Cada experiência das nossas vidas é acompanhada por algum grau de emoção, por mais pequeno que seja, e este facto é especialmente notável em relação a problemas sociais e pessoais importantes. Quer a emoção responda a um estímulo escolhido pela evolução, tal como acontece no caso da simpatia, ou a um estímulo apreendido individualmente, tal como acontece no medo que podemos ter adquirido em relação a um certo objecto, como consequência de o termos associado a um estímulo de medo primário, o facto é que as emoções, positivas ou negativas, bem como os sentimentos que se lhes seguem, se tornam componentes obrigatórios das nossas experiências sociais.
A ideia que estou a apresentar é a de que, ao longo do tempo, não respondemos apenas aos componentes de uma situação social com o repertório de emoções sociais inatas de que dispomos. Sob a influência das emoções sociais (desde a simpatia e a vergonha ao orgulho e à indignação moral), e das emoções que são induzidas pelas punições e recompensas (que são variantes da alegria e da mágoa), somos capazes de categorizar gradualmente as situações de que temos experiência. Categorizamos os erros em que participamos, os seus componentes e o seu significado em termos de grande narrativa pessoal. Somos capazes, além disso, de associar as categorias conceptuais que vamos formando - tanto a nível mental como a nível neural - com os dispositivos cerebrais que desencadeiam as emoções. (…)
Dou especial valor às emoções e sentimentos ligados às consequências futuras das decisões, visto que eles constituem uma antecipação da consequência das acções, uma espécie de previsão do futuro.

in: Ao Encontro de Espinosa, António Damásio, p. 161.
[Imagem: Maquetes do Designer Raul Cunca, in: O Design Plural, Casa da Cerca, Almada, Fevereiro de 2014]