Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

03 dezembro 2013

Perder o Apetite | Qual a diferença entre mim e uma árvore?


E se uma árvore perder o apetite?
Morre.

Mas, se eu estou a perder o apetite!
Irei morrer.

Não, por falta de nutrição, não!
Mas, por falta de prazer, sim.


Por exemplo, na parte do cérebro conhecida como hipotálamo, grupos de neurónios leem directamente a concentração de glucose ou água presentes na corrente sanguínea e atuam de acordo com essa leitura produzindo uma pulsão ou apetite.
A diminuição da concentração de glucose leva a um estado de fome e ao início de comportamentos que visam a ingestão de alimentos e, eventualmente, a correcção do nível de baixo de glucose. Da mesma forma, uma diminuição de da concentração de água leva à sede e à preservação da água. Os rins travam a eliminação da água e a respiração é alterada em paralelo, de forma que menos água se perca no ar que respiramos. (…)
Estes convertem sinais químicos trazidos pela corrente sanguínea em sinais neurais transmitidos ao longo de projecções nervosas dentro do cérebro.
O resultado é o mesmo: o cérebro mapeia o estado do corpo.
O pormenor deste mapeamento local e global, nervoso e químico, é verdadeiramente espantoso.
Não é de todo correcto dizer, como tantas vezes fazemos, que os sinais que provêm do tronco cerebral e do hipotálamo nunca se tornarem conscientes. Pelo contrário, julgo que uma parte desses sinais entra continuamente na consciência sob forma particular: a forma de sentimentos de fundo. E se é verdade que os sentimentos de fundo muitas vezes nos escapam, também é verdade que em muitas circunstâncias atraem a atenção e dominam a nossa consciência. Basta apenas pensar na forma como nos sentimos quando o mal-estar da doença nos invade ou quando a energia da saúde nos faz sentir no topo do mundo. 

in: António Damásio, Ao Encontro de Espinosa, p. 139 e 140.
[Fotografia: Barragem de Montargil, Alentejo/Portugal]