O homem sábio está seguro, e nenhuma injúria nem insulto pode afectá-lo. (…)
Sim, irão tentar, mas a injúria não o alcançará. O homem sábio está tão longe dos seus inferiores, que nenhum impulso maligno manterá a sua força até o alcançar. (…)
Aliás, não sei se a sabedoria não se demonstra melhor pela calma no meio do incómodo. (…)
Sozinho e idoso (…) carrego comigo tudo o que alguma vez tive. (…)
As muralhas que protegem o homem sábio estão a salvo do fogo e das invasões hostis; não têm passagem; são altas, impermeáveis, divinas. (…)
Além disso, aquilo que fere deve ser mais forte, do que aquilo que é ferido. Ora a maldade não é mais do que a virtude, logo, o sábio não pode ser ferido. Só os maus tentam ferir os bons. Os homens bons vivem em paz e entre si; os maus são igualmente perversos com os bons e uns com os outros. (…)
Ora, o homem livre de erros não se perturba; ele é senhor de si mesmo, gozando de repouso mental profundo e tranquilo. (…) Pensa que o homem sábio pertence a esta classe - a dos homens que, pela prática longa e fiel, adquiriram força para suportar e causar toda a violência dos seus inimigos. (…)
Há outras coisas que atingem o homem sábio (…) como a dor física e a fraqueza, a perda de amigos e filhos, e a destruição de seu país em tempo de guerra (…) O que faz ele então? Recebe alguns golpes, mas quando se eleva acima deles, cura-os e põe-lhes fim. (…)
O homem sábio lida com todos os homens do mesmo modo, que o médico lida com todos os pacientes. (…) O sábio entende que aqueles que se pavoneiam em togas roxas, saudáveis e bronzeados, têm um problema mental, considera-os doentes e loucos. Por isso não se irrita com eles. (…)
A vergonha da pobreza atormenta alguns homens, e quem a esconde faz dela uma vergonha para si. Por isso se fores o primeiro a reconhecê-la, tiras o tapete dos que te insultam e escarnecem de ti - ninguém ri de quem começa por rir de si próprio. (…)
Por vezes perderemos até o que nos faria bem, enquanto torturados por essa dor feminina de ouvir algo que não é do nosso agrado. (…) A liberdade consiste em elevar a mente acima das injúrias e tornar-se alguém cujos prazeres vêm apenas de si próprio. (…)
Quanto mais nobre um homem for por nascimento, reputação ou herança, mais corajosamente se deve comportar, lembrando-se que os homens mais altos ficam na linha da frente na batalha. (…) Mantém o posto que te foi atribuído pela natureza. Perguntas tu: que posto é esse? O de ser homem. (…) Não lutes contra a tua própria vantagem e, até que tenhas encontrado o caminho para a verdade, mantém viva essa esperança na tua mente (…) É do interesse da humanidade que haja alguém inexpugnável, alguém contra quem a fortuna não tenha poder. (…)
Isso não pode ser feito sem ócio (…) Na verdade o pior dos nossos males é mudarmos os nossos vícios. (…)
O dever de um homem é ser útil aos seus semelhantes; se possível a muitos deles; não o sendo, ser útil a alguns; não o sendo, ser útil aos seus vizinhos, e, não o sendo, a si mesmo. Pois, quando ele ajuda os outros, promove os interesses gerais da humanidade. (…)
Compreendamos que existem duas repúblicas: uma vasta e verdadeiramente «pública», que contém deuses e homens; (…) e outra à qual fomos designados pelo acidente do nascimento. (…) Alguns homens servem os dois Estados, o maior e o menor (…) Podemos servir a comunidade maior mesmo quando estamos em ócio. (…) Investigamos o que é virtude, se ela é uma ou muitos, se é a Natureza ou a Arte que torna os homens bons. (…)
A grande paixão pelo desconhecido (…) a nossa curiosidade (…) A Natureza deu-nos uma disposição inquiridora e, conhecendo bem a sua própria habilidade e beleza, produziu-nos para sermos espectadores das suas vastas obras. (…)
Porque mesmo a contemplação não é desprovida de ação. (…)
Além disso, há três tipos de vida, e é uma questão recorrente qual dos três é o melhor: o primeiro é dedicado ao prazer, o segundo à contemplação e o terceiro à ação. (…)
Um homem pode viver no ócio; não apenas suportando-o, mas escolhendo-o. (…)
in: Sobre a Serenidade de Um Homem Sábio, de Séneca, Publicado em Portugal por: Ideias de Ler, Porto, Janeiro de 2025