Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

28 fevereiro 2023

Vontade de Existir | Poema

 

Todos se ocupam do pensamento.

Mas, é no corpo que tudo acontece.

Esse sábio ancestral,

Munido de todas as ferramentas.

Necessárias à sua sobrevivência.

E, é tudo.

Cada micro sensor lê e escreve.

Nas linhas do desejo.

Uma vontade de existir.


in: Vontade de Existir, Poema escrito por Ana Paula Gaspar, no dia 25 de fevereiro 2023.

03 fevereiro 2023

Eternar a Natureza | Museu da Música

 


in: Eternar a Natureza, Exposição de Obras de Arte, de Ana Gaspar, no Museu de Música Mecânica, patente desde o dia 4 de Fevereiro a 5 de Março 2023

02 fevereiro 2023

À Árvore | Poema


Oh! Árvore que estás no meu caminho.

Há muitas árvores! 

Mas, tu és única.

Abres os teus braços para o céu.

Enraizaste-te bem na Terra,

Que acolheu a tua semente, e da qual brotaste,

Com toda a força e determinação!

Assim, carregas no teu ventre essa sabedoria.

Aprender a viver.

És presente no meu corpo.

Salvaste a minha alma das intempéries,

Tantas e tantas vezes.

Envolves-me com a tua imponência.

Mostras-me a tua coragem em te manteres aqui.

Amo-te.

És igual a mim.

Sou igual a ti.

E, somos únicas. 

Já te agrediram. Senti o teu golpe como sendo meu, 

Ou talvez, porque tenho também, golpes na minha alma.

Cruzaste-te no meu caminho.

Agradeço-te eternamente.


in: À Árvore - Amiga na caminhada da vida, Poema escrito no dia 2 de Fevereiro 2023 (Mas, muito antes sentido, e neste dia apresentado ao mundo)

01 fevereiro 2023

Sobre a Brevidade da Vida | Séneca

 Não é que tenhamos pouco tempo para viver, a verdade é que dele desperdiçamos muito. A vida é longa que baste, e foi-nos dada uma quantidade generosa para que possamos realizar todas as nossas conquistas, caso todo este tempo seja devidamente investido. (…)

Assim é: não nos é dada uma vida curta, nós fazemos-la curta. Não estamos mal abastecidos, lançamo-nos é ao desperdício. (…) Portanto, o nosso tempo de vida torna-se amplo quando cuidado de forma devida.

Os vícios rodeiam e atacam o ser humano por todos os lados não deixando que se erga e encare a verdade. (…) Mas tu nunca te dignaste a olhar-te no espelho e a estar atento ao que tu próprio realmente precisas. (…) És apenas incapaz de estar a sós contigo.  

Ele nunca será em parte prisioneiro de nada, se aproveitar a liberdade como dono de si mesmo, elevando-se acima de qualquer outro. (…)

Mas aprender a viver leva uma vida inteira, e, decerto para teu espanto, leva uma vida inteira para que aprendamos a morrer. (…) Os que te chamam para o pé deles, afastam-se de ti. (…)

Mas aquele que se devota a si mesmo, que organiza todos os dias como se fosse o ultimo, não anseia nem teme o dia seguinte. (…)

Ninguém trará de volta os anos, ninguém fará regressar aquilo que se foi. A vida seguirá o caminho que começou a percorrer, sem voltar atrás nem reverter o caminho. (…)

A vida passa, vertiginosamente rápida e imparável, por nós, estejamos de pé ou deitados. Os ocupados só se dão conta quando tudo acabar. (…)

Não interessa quanto tempo nos é dado se não existe nenhum lugar que o acomode, ele escapa pelas fendas e buracos da mente. (…) O presente é curtíssimo, muitos nem estão cientes de quanto, a ponto de o acharem inexistente. (…) Porque está sempre em movimento, a fluir (…)

De toda a gente, só aqueles que se dedicam à filosofia estão realmente descansados, só eles vivem de verdade. Não só pelo controle do tempo em que se inserem, como porque lhe juntam toda a eternidade. Todo o tempo que passou é acrescentado ao deles. (…)

A condição dos preocupados é miserável- e a miséria é seguir ordens como amar e odiar. (…)

Mesmo depois de ter consultado todas as obras escritas pelos mais famosos autores sobre o controlo e a moderação da mágoa, não encontrei exemplo algum de quem tenha sido capaz de consolar outro enquanto padecia da mesma tristeza. (…)

O infortúnio eterno tem uma benção, acaba por endurecer aqueles a quem aflige de forma constante. (…)

Todas as tuas mágoas foram um desperdício se ainda não aprendeste a ser miserável. (…) Fi-lo, corajosamente, por ter decidido conquistar a tua dor, não enganá-la. (…)

Era intenção da natureza que não houvesse necessidade de grandes apetrechamentos para que tivéssemos uma boa vida: cada indivíduo pode fazer-se feliz. Os bens materiais são da mais banal importância e de pouca influência: a prosperidade não eleva o sábio e as adversidades não o deprimem. Porque sempre se esforçou para confiar ao máximo e para obter todo o prazer de si mesmo. E depois? Pensas que me estou a chamar sábio? Claro que não. Se pudesse dizer tal coisa (…)

Não foi feito de materiais pesados da terra, mas desceu de um espírito celestial: mas as coisas celestiais estão semana em movimento por natureza. (…) O Sol desliza constantemente, deslocando-se de um lugar para outro, e embora gire com o universo, o movimento é oposto ao do próprio firmamento: percorre todos os signos do zodíaco sem nunca parar; o movimento é eterno à medida que viaja de um ponto para o outro. Todos os planetas estão sempre a rodopiar e a passar; como a lei inviolável da natureza decretou, são varridos de uma posição para outra; quando, no decorrer de períodos fixos, tiverem completado os percursos deles, voltarão a entrar nos caminhos por onde vieram. (…) Verás que tribos e nações inteiras mudaram de lugar. (…)

Onde quer que vamos temos de lidar com as mesmas leis da natureza. (…)

Não ter país não é miséria: ensinaste-te através dos teus estudos a saber que para um homem sábio todos os lugares são o seu país. (…)

Não há comida em todo o lado? A natureza espalhou-a por toda a parte; mas os humanos passam por ela como se fossem cegos, vasculham todos os países. (…) Quão pequeno é o vosso corpo. (…)

Como se pode acreditar, que a felicidade é medida pela riqueza e não pelo estado de alma. (…) Nada é suficiente para a ganância, pouco é suficiente para a natureza. (…)

Tal como nenhuma quantidade de líquido satisfará aquele cuja sede não se deve à falta de água, mas sim a uma febre interna: pois não é de sede que se trata, mas de uma doença. (…) É a alma que nos trás riqueza.

Assim a alma nunca poderá sofrer no exílio, sendo livre e semelhante aos deuses, igual a todo o universo e a todo o tempo. Pois o pensamento engloba todo o céu e viaja para todo o passado e futuro. (…)

É da nossa natureza admirar, mais do que qualquer outra coisa, aqueles que mostram coragem perante a adversidade. (…)

Daí ser melhor conquistar a dor do que enganá-la. (…) 

O uso prolongado de boas e más práticas leva a que as ames. (…)

É mais fácil para mim defender a minha alma do que os meus olhos. (…) Que ninguém me faça perder um dia. (…) Quem se atreve a dizer a verdade a si próprio? (…) Para expressar através de uma comparação junta, o mal de que queixo, não é a tempestade que me atormenta, mas o enjoo de navegar. (…)

De facto, existem inúmeras características da doença, mas só um efeito - o descontentamento próprio. Isto surge da instabilidade mental e de desejos amedrontados e não realizados. (…)

Pela hesitação de uma vida incapaz de ver o seu caminho em frente e pela letargia de uma alma estagnada. (…) Odeia contemplar e seu próprio isolamento. (…) A ociosidade improdutiva alimenta a malícia. (…) A mente é activa por natureza e inclinada para o movimento. É da natureza da doença não poder sofrer por muito tempo. (…) Diz Lucrécio: «Assim cada um foge sempre de si próprio.»  

Se te aplicares ao estudo, evitarás todo o tédio da vida, não desejarás a noite por estares farto do dia, não serás um fardo para ti próprio, nem inútil para os outros, cultivarás muitas amizades e as melhores pessoas reunir-se-ão em teu redor. (…)

Sê um amigo fiel e um companheiro afável. (…) e reivindicámos o mundo como nosso país. (…) o teu encorajamento, o teu exemplo, a tua coragem. (…) Mantém-te firme e ajuda, embora em silêncio. (…)

Terás que reinvindicar mais tempo para o descanso e para o trabalho literário. (…)

Devemos ser especialmente cuidadosos ao escolher aqueles com quem nos damos. (…) Contudo, nada há que possa dar mais alegria à alma do que uma amizade carinhosa e fiel. (…) Que alegria é confiar. (…)

Misturar os sãos com os doentes é como começar uma epidemia. (…)

Por muito fiel que seja, por muito dedicado que seja um amigo, um companheiro sempre perturbado, sempre a gemer é o maior inimigo da tranquilidade. (…)

Estás enganado se pensas que os mais ricos são mais fortes: a dor da ferida é a mesma. (…)

Comamos apenas para satisfazer a fome; bebamos apenas pela sede; não deixamos que os apetites carnais vão além dos desejos da natureza. (…) Procuremos usar e não exibir. (…) Olhar para a pobreza sem preconceitos. (…) Em tudo o excesso é um vício. (…) Toda a existência é escravidão. (…) Concentremo-nos no que está próximo de nós. (…)

A solidão e a união com a multidão: uma fará com que tenhamos saudades das pessoas, e a outra, de nós próprios, e cada uma delas será o remédio para a outra; a solidão curará a saudade que temos por uma multidão, e uma multidão curará o aborrecimento da solidão. (…)

A alma não pode dizer nada de grande e acima da gama comum se não for fortemente movida. (…)


in: Sobre a Brevidade da Vida, de Séneca, Talento, 2022