Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

31 julho 2014

O Guardador de Rebanho | Alberto Caeiro

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol,
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr-do-sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

(…)

Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.

in: O Guardador de Rebanhos, (Textos seleccionados), de Alberto Caeiro, Edição Alma Azul, Coimbra, Poema I, p. 3 e 4.