Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

04 maio 2014

Ser | Solitário

Acompanhado da fragilidade pós-moderna em todos os âmbitos da sociedade, os relacionamentos são mais uma questão a trazer angústia para indivíduos esvaziados e que vão buscar em um parceiro um alento para satisfazer suas frustrações. Mas que não sabem mais como se relacionar.
Segundo Arthur Schopenhauer, a felicidade vem de uma forma de vida auto-suficiente, e ainda segundo André Comte Sponville que diz que mesmo o amor a dois deve ser solitário.
Então, será que estar sozinho não pode ser uma opção, uma escolha? Não existe um meio-termo entre um relacionamento ortodoxo e um estilo de vida hedonista conhecido como "vida de solteiro"?
Não estar acompanhado de um parceiro parece estranho aos olhos da sociedade. Isso pode se dever ao facto de inúmeros exemplos no nosso quotidiano, seja no cinema, em letras de música, no senso comum, ou nas obras de autoajuda, em que proliferam abordagens simplórias sobre o amor e que alimentam ainda mais as frustrações de relacionamentos por oferecer visões distorcidas e incentivar um posicionamento romântico e raso sobre o tema. (…) A solidão não é outra possibilidade? E outros tipos de comportamentos em diferentes momentos da vida? Calma, tempo para si, contemplação… relacionamentos distintos, com outros contornos, não seriam válidos? (…)
Tratando-se do amor, especificamente, ele defendia que, em função da vontade, ambicionamos preservar a espécie. O amor, nessa esteira, seria uma ilusão: "Nenhuma união é tão infeliz quanto esses casamentos por amor - e precisamente pelo facto de que o seu objectivo é a perpetuação da espécie, e não o prazer do indivíduo". "Só um filósofo pode ser feliz no casamento, e os filósofos não casam". O verdadeiro mote, por trás da vontade de reproduzir, seria, em suma, a preservação da espécie, e para isso, "cada qual procura um companheiro que vá neutralizar seus defeitos, para que esses não sejam transmitidos".  

Amor e Relacionamento Versus Felicidade, in: Filosofia, Ano VII, Nº 76, Novembro 2012, pp. 14 a 23.