Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

20 janeiro 2014

Depressão | Vírus

Os mapas relacionados com a mágoa, tanto no sentido estreito como largo da palavra, estão associados a estados de desequilíbrio funcional. A facilidade da acção reduz-se. Nota-se a presença da dor, de sinais de doença ou de sinais de desacordo fisiológico, todos eles indicando uma coordenação diminuída das funções vitais. Se a mágoa não é corrigida seguem-se a doença e a morte.
(…)
De acordo com o que Espinosa disse quando discutiu a noção de tristitia, os mapas da mágoa estão associados a uma transição do organismo para um estado de menor perfeição. O poder e a liberdade de atuar reduzem-se. Na perspectiva espinosiana, a pessoa invadida pela tristeza é separada do seu conatus, é separada da sua tendência natural para a autopreservação. Esta descrição aplica-se, por certo, aos sentimentos que se encontram nas depressões graves e às suas consequências últimas no suicídio. A depressão pode ser vista como uma parte de uma «síndroma de doença». Os sistemas endócrinos e imunológicos participaram na depressão crónica tal como se um agente patogénico, por exemplo uma bactéria ou um vírus, tivesse invadido o organismo. De forma isolada, momentos de tristeza, medo ou zanga não precipitam a espiral de deterioração da doença. Contudo, toda e cada ocasião de emoção negativa coloca o organismo num estado marginal. Quando a emoção é o medo, esse estado marginal pode ter vantagens - desde que o medo seja justificado e não seja o resultado de uma apreciação incorrecta da situação, ou sintoma de uma fobia. O medo justificado é uma excelente apólice de seguros, que tem salvado ou melhorado muitas vidas.

in: Ao Encontro de Espinosa, de António Damásio, p. 153.