Aguarelas Finas, Le Corbusier | Maison La Roche, Paris

18 dezembro 2011

Embrulho | Presente



Na China, o embrulho de um objecto sempre foi feito obedecendo a uma regra imutável que não tem em conta a forma do objecto a ser embrulhado. O papel, ou qualquer outra matéria, é colocado diante da pessoa de forma a coincidir com os quatro pontos cardeais, uma ponta para cima, uma para baixo e as outras duas, uma para cada lado, para a direita e para a esquerda; o objecto, que se encontra, teoricamente, no centro, representa o quinto ponto tão caro aos Chineses: torna-se o centro do mundo, o objecto de uma atenção quase sagrada. Este procedimento não exige qualquer tipo de cordel para segurar o embrulho: desta forma, jamais se desfaz. Porém, o objecto assim embrulhado adquire, sobretudo, o valor de um pequeno universo, centro de cuidados, de atenção e de intenção.
Sabe-se que esta arte de embrulhar continua a ser, no Japão, uma forma observada por todos, com um cuidado extremo. Os nossos embrulhos de presentes de Natal nada são comparados com a mais simples embalagem japonesa. Isto porque, segundo a meditação de Jean Barthes, o objecto, como que escondido sob uma multiplicidade de invólucros por todo o lado papel, tecido, madeira, etc., acaba por não ter qualquer importância; dir-se-ia, em linguagem corrente, que ele tem apenas um valor simbólico; seria mais justo dizer que a embalagem, que materializa o gesto do presente, se torna, em última instancia, um pensamento (BARS, 60) por detrás do qual o significado, isto é, o conteúdo do embrulho se aproxima do vazio. O conteúdo simbólico – e, portanto, o verdadeiro conjunto de significados oculto por destras da aparência exterior do embrulho – é descoberto ou lido na própria embalagem à medida que é desatado, desdobrado, despido.
Ver: Jean Chevalier & Alain Cheerbrant, Dicionário dos Símbolos, Teorema, Lisboa, 1994, p. 283.