Asgard era um lugar novo, apareceu uma bruxa vinda dos confins dos mundos. Conhecia muitos feitiços antigos, mas era especialmente habilidosa com seior, uma magia que permitia viajar para fora do corpo e adivinhar o futuro. (…)
Espetaram-lhe lanças e queimaram-na três vezes, e três vezes a bruxa renasceu. (…) Quando os Vanir souberam do modo como os Aesir a estavam a tratar, ficaram furiosos, e assim foi declarada a primeira guerra no cosmos. De terceira vez que renasceu, Gulleveig fugiu, no entanto, deixou algo para trás: o coração trespassado por uma lança e ainda a fumegar na pira. Foi aí que ele o encontrou. (…)
Encontrou a bruxa a contemplar a deusa floresta e as montanhas que se viam ao longe (…) o sol brilhava, mas ela estava sentada à sombra, encostada ao tronco de uma árvore, com as mãos cruzadas no colo. (…)
És uma mulher difícil de encontrar (…) Estava ali para devolver o que ela deixara no salão de Odin (…) algo o atraía nesse dia, até à floresta de ferro, com o coração da bruxa no saco. (…) A princípio a bruxa não respondeu, optando por estudar o estranho homem que se aproximava. (…) Admiro sinceramente o teu trabalho. (…) consegues semear o caos onde quer que vás. Fazes com que os poderosos lutem pelos seus talentos. É realmente impressionante. - Não era essa a minha intenção - replicou a bruxa, passado um momento. (…)
Angrboda fez a sua casa no extremo oriental da Floresta de Ferro, onde as árvores se agarram precariamente às montanhas escarpadas (…)
Não sabia quanto tempo passara desde que se tinham encontrado junto ao rio, mas o seu cabelo castanho-claro já tinha crescido, liso e bonito. (…)
E assim Skadi construiu-lhe uma mesa, dois bancos e um estrado de cama, que encostaram à parede e cobriram com cobertores e peles (…) mas a melhor criação da caçadora foi a última: uma cadeira, para colocar junto à lareira. Angboda gravou-a com padrões e espirais e colocaram peles sobre o assento para ficar mais confortável. (…)
Desde que chegara à Floresta de Ferro, depois de ter sido queimada, os bosques tornavam-se mais verdes a cada primavera (…)
Loki (…) quando deixo o meu corpo sinto-me ligada a tudo. Sou parte de todos os mundos (…) coisas que ainda não aconteceram (…)
Ali ficaram a olhar uma para a outra (…) passou o dedo numa das espirais que gravara no braço à muito tempo! (…)
Havia aqui uma bruxa que deu à luz os lobos (…)
Com poções e feitiços curou os doentes (…) aquela ajuda parecia-lhe natural. (…)
Dormia quase sempre sozinha, sob a capa, nas florestas ou nas montanhas (…) os únicos ornamentos que possuía eram as contas de âmbar, o cinto e a faca (…) Por vezes a cabeça doía-lhe tanto que nem sequer conseguia andar (…)
Concebe o último desejo a uma mulher morta - sussurrou Skadi (…) e deixa-me partilhar a tua cama, partilhá-la verdadeiramente, esta e todas as noites até ao fim. E, Angrboda assim fez. Os meses que se seguiram pareciam quase um sonho (…)
Quando o dera à luz, era apenas uma cobra verde, pequena, agora a sua cabeça assemelhava-se mais à de um dragão. (…)
Quando voltou a abrir os olhos (…) envolta dos ombros da amante. (…) Conseguiste. Está na hora. (…)
(…) a faca de cabo de cifre de Angboda, aquela que usava no cinto (…) olhou para a espada à cintura de Skadi e perguntou: - Era do teu pai? (…)
in: O Coração da Bruxa, de Genevieve Gornichec, Editora Minotauro, 2023